terça-feira, 25 de maio de 2010

A DIFICIL ARTE DE SER JORNALISTA


Ontem li no blog de um colega a indignação dele por saber que existe um serial killer de cachorros. Está certo, é para indignar mesmo. Ao ler o texto dele me perguntei: como é possível alguém ter coragem de matar um cãozinho. Um bicho dócil, amável cuja convivência com eles só nos faz pessoas melhores. Ainda não encontrei a resposta. Com certeza jamais a encontrei, pois não há resposta ou justificativa para uma atrocidade dessas.

Hoje estávamos chegando ao final de mais um dia de trabalho quando soubemos do assassinato de uma garotinha de nove anos. O bárbaro crime ocorreu na cidade de Osasco, na grande São Paulo. A pequena foi violentada, esfaqueada e depois aberta - acredito ser desnecessário dar mais detalhes. Na hora que soube a vontade foi de chorar. Tive que engolir seco o choro. Com o jornal no ar fica “fácil” abstrair, pois a correria é tanta que nos impede de pensar em qualquer coisa que não seja o próprio jornal. Além disso o crime deixou a redação um alvoroço.

Continuei na correria. Afinal, tínhamos que apurar corretamente a história para entrarmos com a noticia. Mas desta vez não consegui me desligar totalmente. A cada momento me vinha um flash da história e eu pensava: meu Deus, como isso é possível? Como alguém pode cometer uma barbárie dessas? Era só uma menininha de nove anos. O principal palpite dos colegas é de que a garotinha tenha sido vítima de um ritual de magia negra. Seja o motivo que for, é inacreditavel que coisas deste tipo possam acontecer!

Não consigo parar de pensar nessa criança. No desespero dela, na dor, no medo, no horror que deve ter sido os últimos momentos da vida dela e me pergunto: que mal uma criança de nove anos poderia ter cometido para ter um fim desses? Não dá para aceitar. Não da para acreditar que isso seja possível. Que isso seja real.

Foi um momento complicado. É dificil (pelo menos para mim) manter a imparcialidade o tempo todo. Não tenho sangue frio para isso. O que me consola nessas horas é saber que a indignação não foi só minha. Lógico, a redação toda ficou em choque. E não poderia ser diferente. Ao ter conhecimento da história, a reação de todos era a mesma: mãos no rosto e o “sobe-som": meu Deus, que horror!

Quem não vive essa realidade arregala os olhos quando dizemos que somos jornalista, que trabalhamos nessa ou naquela emissora. É legal? Não vou mentir, é sim. Sou feliz por trabalhar numa grande emissora? Lógico que sou. Estudei para isso. Batalhei anos por isso. O que me entristece é ter de lidar o tempo todos com a desgraça humana. Com a dor das pessoas. Imagina a dor dessa família. Dessa mãe. Como é possível viver com a dor de saber o quanto alguém que é importante para você sofreu para morrer. Ainda mais para uma mãe de uma garotinha de A P E N A S nove anos.

Quando fazemos jornalismo pensamos em mudar o mundo. Achamos que vamos investigar, denunciar as coisas erradas e com isso tornar o mundo um pouco mais habitável. Impossível.

Situações como essa me deixam muito descrente de tudo. Pelo menos neste momento estou.
Pensando nisso, volto a lembrar do texto do meu amigo e penso: se alguém consegue fazer isso com uma criança, matar um cachorro não é nada. É amigo, estamos perdidos. Perdemos total noção da vida. Pessoas matam tudo e todos por nada. Simplesmente nada!

Enquanto isso continuamos a sonhar com um mundo um pouco melhor. Esperamos que essa criança descanse em paz. Que essa familia consiga viver em paz (se é que isso seja possível)!
Mas o que eu sei, é que hoje será dificil pegar no sono!

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